Ponto De Vista de um Ateu "Crente" Parte I

15/03/2013 11:35

 

Visões de um “ateu crente”

PARTE - I

 

           Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo Jesus, ainda a pouco escrevia eu sobre os “Desafios da Igreja: Iniciação, Pregação, Fé e Doutrina[1]”. Não obstante estive recentemente num encontro com a juventude da paróquia na qual faço pastoral e ocasionalmente, havia no mesmo horário a celebração de um matrimônio.

          O fato é que na entrada da igreja havia um senhor já nos  seus 67 anos de idade, que me perguntou: você é seminarista, não é? Perguntas tipo aquelas que nós seminaristas estamos, por assim dizer, acostumados a ouvir, visto que por providência – para os crentes – e coincidência, para os nãos crentes; pois existem de certa forma algo que sem que queiramos nos diferencia dos demais, jovens – não que isto nos façam melhores, mas de fato diferente – é como se estivesse escrito em nossas testas “sou seminarista”.

          Enfim é certo que não cheguei na hora prevista ao encontro promovido pela juventude, pois o suposto “José[2]” quis fazer algumas perguntas, e iniciou perguntando: porque nós chamamos Jesus Cristo de Jesus Cristo, se Deus não tem nome? E porque chamar Deus de Deus se Deus não é nome, se Cristo é o Messias, mas messias é título; porque Ele sendo filho de Deus e sendo o próprio Deus, só pode não pode ter nome? Porque nós utilizamos a cruz nas nossas Igrejas, se cruz é, segundo ele, é sinal do “mal[3]”, que matou Jesus? Matou o Messias, mas o messias não pode ser venerado na cruz, nem posto novamente numa cruz – como fazemos nas encenações teatrais da Semana Santa – porque representa assim, na visão dele, que nós somos do demônio, compactuamos com ele ao por Cristo na cruz em nossas Igrejas, e além do mais nem imagens também, porque esta escrito, “não farás para ti outros deuses”. (cf. Dt 5, 6-10).[4]

          E nem mesmo Maria pode ser “adorada” porque ele é uma mulher e esta escrito também, que o próprio Jesus a chama de mulher e não de mãe? (cf. Jo 19, 26-27).

          Depois de tanto saltitar entre trechos isolados da Bíblia ele recorreu a História de Sidrac, Misac e Abdênago como descreve no livro de Daniel: “alguns judeus, que Tu, ó rei, nomeaste governadores das províncias da Babilônia – são eles Sidrac, Misac e Abdênago – não respeitaram a tua ordem, ó rei, não prestaram culto ao teu deus, não adoraram a imagem de ouro erguida por Ti, ó rei,”. Nabucodonosor, então, indignado e enfurecido, mandou buscar Sidrac, Misac e Abdênago”. (cf. Dn 3, 1-97).

          Depois de contar-me toda a história, como se eu não a conhecesse, disse-me o “sentido”, motivação pessoal, do porque ele não entrou na igreja para presenciar a celebração do Matrimônio de seu filho. 

         Toda sua motivação para não entrar na igreja, estava fundamentada nesta história bíblica. Esses três jovens que não se prostraram diante do rei, representante do poder do mundo, para oferecer sacrifícios aos deuses.

          Enfim, já se percebe que é pouco provável que eu tenha tido tempo de lhe dar algumas linhas do que é de fato o pensamento dos Cristãos a respeito de suas perguntas, que a princípio parecem ser pertinentes, mas com uns 0,05 segundos de raciocínio se percebe que de fato, Marx não estava tão errado quando disse que “A religião é ópio do povo”, - de fato para algumas pessoas parece tão evidente que ela – a religião funciona como um entorpecente; que algo/sinal, que lhes ajudem a ter um encontro com Cristo – não quero defender Marx, até porque não concordo com ele.

          Apenas digo por que, quando se retira da Bíblia trechos separados, isolados e, sobretudo fora do contexto histórico da época em que a Bíblia foi escrita, a possibilidade de acertar na hermenêutica interpretativa de sua Palavra é tão rara e curta, que certamente seria mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha. (cf. Mt 19,24).

          Note que esta frase “cai” bem neste contexto, porque eu a pego isoladamente para afirmar a dificuldade que qualquer individuo terá ao interpretar a Bíblia sem conhecimento prévio, da história, contexto, cultura, sociedade, da época.

         Assim, para lhe dizer que o nome de Jesus é Jesus = o Messias = o Salvador = o Libertador, = o que dá Vida; recorri a uma possibilidade, visto que o senhor já de idade e em plena ignorância no que diz respeito à tradição da Igreja e sua História, começou negando que somos de raiz, (vertente judaica), no que diz respeito à tradição celebrativa, sem duvida que com um novo sentido, aprimorado, se me é possível dizer isto, pois Cristo era Judeu, e não Cristão. Como diz um amigo de turma meu (ex-turma – 2012), isto é tão certo quanto caminhar para frente. Mas convenhamos que o senhorzinho não tivesse nenhum conhecimento a respeito disso.

         Fato é que não foi fácil, mas pareceu-me, que quando eu disse a ele que Deus é aquilo que É, e é nós que lhe atribuímos nomes de acordo com nossa linguagem limitada, entendeu ou fingiu entender, então lhe citei a passagem de Êxodo: “Eu sou Aquele que Sou”. (cf. Êx 3,14).

         Eu poderia ter dito a ele de forma breve, que o nome Deus, não e nome, mas atributo, forma humana de denominar o Criador, mas Deus não é nome, porque Deus não tem nome, mas o  Filho tinha que ter, pois é uma figura Histórica, também e que nasceu em Belém, era Judeu, logo seus pais lhe deram um nome, (o qual hoje nós falamos comumente Jesus Cristo), mas e se fosse outro nome, mudaria substancialmente a fé dele?

        O fato é que é difícil explicar estas coisas para alguém nesta idade, temos que recorrer ao recurso de fazê-lo pensar por contra própria, se “machucar” a consciência da pessoa; desafio complexo admito. No entanto, disse a ele que o termo "Jesus" é apenas a tradução de um nome hebraico para o Grego, e depois para o latim e então Português, após passar por outras traduções.

          Para exemplificar de outra maneira disse-lhe que o imperador alemão Guilherme, em alemão se chamava Wilhelm, em inglês William. Igualmente, o rei Carlos Magno, em francês Charles Magne, em alemão Karl der Grosse... Etc. E que ainda hoje, os espanhóis traduzem o nome da Rainha Elizabeth: por Rainha Izabel.

          Enfim o senhorzinho além de não entrar para presenciar o casamento do filho dele, não me deixava ir ao encontro que havia saído de casa para participar.

                              Continua....

[2] Nome fantasia, para não expor o individuo.

[3] Mal entendido aqui como demônio, vontade do mundo, dos homens que não aceitaram Jesus Cristo.

[4] Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão; Não terás outros deuses diante de mim; Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra; Não te encurvarás a elas, nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até à terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.