O Coração de Jesus revelador do infinito Amor do Pai

06/06/2012 10:20

SOLENIDADE DO CORAÇÃO DE JESUS

         2012

 

O Coração de Jesus revelador do infinito Amor do Pai

Por Frater Everaldo Francisco de Aparecido, scj

 

           

Caríssimos irmãos no coração de Jesus e do Coração de Jesus, nesta Solenidade do Coração de Jesus, que se aproxima, neste ano de 2012, eu não poderia deixar de dizer ou ao menos tentar refletir um pouquinho sobre o sentido do coração de Cristo revelador do Amor infinito do Pai.

Não porque eu pense que alguém mais religioso e até mesmo mais santo que eu não fará; uma reflexão belíssima de encher os lábios de alegrias e de saltar os olhos com as concordâncias nos jogos de palavras, mas simplesmente porque também a eu cabe retomar o sentido de pertença a esta família que abraça o “carisma do coração de Jesus[1]”, que na experiência vivida por nosso fundador Padre Dehon, como o mesmo relata em nossas Constituições: “Do Coração de Cristo, aberto na cruz, nasce o homem de coração novo, animado pelo Espírito e unido aos irmãos na comunidade de amor, que é a Igreja[2]”.

É precisamente por buscar compreender esta frase que nós dehonianos nos sentimos chamados e impelidos para viver em nós este mesmo carisma; viver em nós é buscar constantemente pôr em pratica este desejo de ser no Mundo e para o Mundo sinal do amor que “brota” do coração de Jesus, seguindo os passos da experiência vivida por padre Dehon[3]. E que pela qual ele deu sua vida em favor dos pequenos[4], seguindo o modelo único ao qual todo o ser humano deve inspirar-se, Cristo Jesus feito Homem[5], em cuja pessoa se expressa à plenitude do amor infinito do Pai, porque procede do Pai[6], que desde o início cria o gênero humano para buscar e viver este amor em plena liberdade em Cristo.

Este amor infinito do Pai revelado em Cristo, que o leva a total doação de si, para a salvação do ser humano, são também palavras profundas para nós, como nos lembram das nossas constituições no número dois, nas palavras de São Paulo, as quais nosso fundador faz suas quando afirma: “minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim[7]”.

Este amor doação total, que desde o princípio o Pai “direciona” para as suas criaturas, a saber, o ser humano criado a sua imagem, para viverem em plena liberdade e multiplicando este amor por meio da graça que procedo do mesmo Deus Criador. Assim o catecismo da Igreja diz que a vida do homem consiste nisto: buscar conhecer a Deus, seu Criador[8]. Só Nele e por Ele o homem se realiza e a este o próprio Deus se revela no mais íntimo de seu ser, o coração do homem[9]; nas palavras do Catecismo: “a oração procede do homem. Seja qual for à linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo que ora. Mas para designar o lugar de onde brota a oração, as Escrituras falam às vezes da alma ou do espírito ou, com mais frequência, do CORAÇÃO (mais de mil vezes). É o coração que ora. Se ele estiver longe de Deus, a expressão da oração será vã. O coração é a morada onde está Deus, onde Ele habita (e segundo a expressão semítica ou bíblica, aonde Ele «desce» [10])”.

Ora, no coração do homem, Deus habita, mas é preciso ressaltar que quando este, o homem se distancia de Deus, é também o lugar onde nasce toda a maldade humana. Como diz o Evangelho de São Marcos: “Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios[11]”.

É de fato daí do interior do ser humano onde Deus se revela se comunica com o gênero humano, que também nasce às maldades desse. Os maus desejos, as maledicências, o falso testemunho, as indisponibilidade para o serviço comum, para o bem do próximo. Visto que tudo primeiro vem ao pensamento e uma vez consentido conscientemente é que se dá a sua realização. Grosseiramente comparando isto tudo acontece por rejeição do amor de Deus Pai, revelado e anunciado por Cristo.

Uma vez rejeitado o amor misericordioso do Coração de Jesus revelador do Amor do Pai, do projeto que Deus Pai tem para com cada ser humano, tudo se encaminha para o oposto. Para as insatisfações pessoais, e consequentemente projetando-as nos irmão de comunidade, quando é o caso da vida em comunidade, vida religiosa, e até mesmo os membros de uma família. Não reconheço que sou eu que me afastei do Amor e estou indisponível a Misericórdia, mas julgo ter uma certeza de que é o outro que não quer fazer ou não me permite fazer nada.

Ora, se sou indisponível e isto se “refugia” na afirmação de que é “porque os outros não fazem nada para o bem da comunidade”, não posso em hipótese alguma considerar que o “outro” ou os outros são os responsáveis por minhas atitudes, visto que só Deus pode penetrar o coração do Homem e estas atitudes minhas nascem no meu interior e não dos atos exteriores nem do agir dos outros. Logo o único responsável.

 Na Bíblia constatamos que é de onde brotam as “maldades” e os maus desejos, é também exatamente o lugar que eu ( nós) como cristãos devemos “limpar” preparar para que o Reino de Amor, o Reino que Cristo veio anunciar se torne uma realidade em nossa vida e na vida dos que nos rodeiam e convivem conosco. Como bem constatamos na seguinte passagem das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os puro-limpos de coração, porque eles verão a Deus[12]”.  Limpar o coração, ou estar puro de coração na Bíblia vai além do que muitos bíblistas e exegetas se acham capazes de afirmar; certamente você se curioso for, já ouviu se dizer de tudo sobre os possíveis significados de estar limpo de coração na contexto bíblico. Mas eu vou dizer apenas uma afirmação, estar limpo e puro de coração é estar aberta a graça de Deus, é estar disponível para servir, para amar o próximo, é estar desapegado das coisas terrenas para cumular tesouros nos Céus.

Não se pode esquecer que na cultura antiga, o coração era, e de certa forma ainda é o centro das concentrações verbais poéticas literárias humanas, ainda que biologicamente não o seja. Por isso Jesus nãopoderia deixar de afirmar: “onde estiver o vosso tesouro ai estará o vosso coração”. (cf. Mt 6,21). E seguidamente é compreensível que não há como o coração não ser o centro da vida visto que ele[13], por assim dizer, é membro físico que comanda e manda vida para todos os outros[14], sem ele nada subsiste.

Tanto, quanto assim, o coração de Jesus revelador do Amor do Pai, e que é Bom, é Misericórdia, é amor, é vida, é paz, é complacência, é compreensão, é integridade, é unidade com o Pai, é também revelador do infinito amor do Pai, pois sendo Ele, Cristo, centro do anúncio do reino do Pai é e pode dizer que sua missão é fazer a vontade do Pai. Seu Alimento e cumprir a sua vontade, vontade do Pai. Missão do Filho, cumprir a vontade do Pai para que reine o Reino de Amor entre os seres humano.

Ele, Cristo pode, então, dizer que o a boca fala daquilo que o coração esta cheio, ele é repleto de amor, da comunhão com o Pai, por isso fala daquilo que esta repleto; de Misericórdia, pois é revelador do amor do Pai, então, exorta-nos dizendo, que “a boca fala do que há em abundancia no coração”. [15] E consequentemente pode afirmar com plena convicção: “Eu sou o Caminho a Verdade e a Vida”. (Cf. Jo 14,6). Ele pode dizer isto porque sendo a expressão infinita do amor do Pai, é Amor, sendo Amor é vida, sendo Vida e Deus Pai sendo Fonte de Vida, Cristo também o é, por ser Uno com o Pai e o Espírito. “Eu e o Pai somos um[16]. Expressão máxima da comunhão entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo.

Por isso todo aquele que deseja ser imitador de Cristo deve revelar, transmitir o Amor e a misericórdia do Pai. Que em seu Filho único se esvaziou-se para revelar ao gênero humano sua maior expressão de Amor, doação, Ablação. E por meio de Cristo cumprir seu plano Salvifico de que todos os seres humanos se salvam, pois cristo não veio para julgar, mas para resgatar todo aquele que se encontra fora do caminho da Salvação, nas trevas, no caminho da morte, distante do infinito Amor do Pai.

Não posso deixar de ressaltar que a Solenidade do Coração de Jesus é sem dúvida alguma uma das festas mais lindas para todo aquele (a) que entende o sentido da passagem bíblica: “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento[17]”.  Não há nada neste mundo mais sublime que conseguir por estas palavras em prática, pois nelas estão implícitas, a caridade ao próximo, o amor a Deus, a vida, a perseverança na solidariedade e a reta intenção de servir primeiro a Deus; este servir é concomitante há um extremo ato de fé e esperança no amor Misericordioso do Pai.

Outro fato, é que a Bíblia põe/cita mais de 870 vezes a palavra coração[18], geralmente com o intuito de dignificar a integridade do ser humano, sua comunhão com Deus. Não posso deixar de lembrar aqui, sobretudo aos curiosos, que o Catecismo da Igreja Católica, diz ser mais de mil vezes, possivelmente por uma questão de tradução, mas vale a pena lembrar, para não gerar dúvidas ou controvérsias.

Enfim, para nós dehonianos celebrar esta solenidade é puramente relembrar de onde nascemos e de onde tiramos forças para Escutar, Aprender e Anunciar a Boa Noticia do reino de Deus. É também onde encontramos repouso no manso e humilde Coração de Jesus, por fim aonde podemos viver e reviver a experiência de nosso fundador Congregacional, Padre Dehon. É onde e por onde podemos exercer nosso Carisma de Oblação. Somente entendendo como nasce a congregação e de que integridade há entre sua fonte e o ser humano que podemos de fato viver e testemunhar nossa vocação, por vezes questionadas, mas num mundo onde reina a primazia da razão, o que porventura não deva ser questionado?

Termino desejando a todos uma excelente Celebração da Solenidade do Coração de Jesus e a todos os “Amigos do Coração” uma ótima vivencia desta espiritualidade. A você que deseja conhecer nossa família dehoniana, busque viver este Amor infinito do Pai que se revelou e se revela no seu Filho Único Cristo Jesus.

Salve o Coração de Jesus, pelo Coração de Maria!

 

 


[1] Pus aqui o carisma do Coração de Jesus, entre ASPAS, porque na verdade aspiramos e buscamos viver este ideal de reparação e Oblação na Experiência de Padre Dehon.

[2] Constituições da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus. Nº 3.

[3] Constituições SCJ nº 2.

[4] DEHON, João Leão. Renovação Social Cristã.

[5] Cf. Jo 1, 1-3.

[6] Idem.

[7] Const. Scj. nº 2. § 2.

[8] CIC = Catecismo da Igreja Católica. Nº 1.

[9] Cf. CIC nº 2562-2563

[10] Idem.

[11] Cf. Mc 7,21.

[12] Cf. Mt 5,8.

[13] Isto já comentei noutro texto “Nosso Tesouro é a Fonte do Amor”.

[14] Quem tiver curiosidade poderá pesquisar que na verdade é o Celebro o último a parar de funcionar, e que o Coração não dá comando, mas o Celebro, no entanto, sem oxigênio enviado através da corrente sanguínea por “obra” do coração nem esta pode enviar comandos viáveis ao outros membros.

[15] A boca fala daquilo que o coração. Cf. Mt 12,34.

[16] Cf. Jo 10,30.

[17] Cf. Mt 22,37; Mc 12,30

[18] Desde o livro de Gênesis 6,5 (por primeira vez), até Apocalipse 18,7 (última citação). N. B. Sujeito a diferença de traduções.

 


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