Hominus capax Dei Est
Hominus capax Dei est
Por Everaldo Francisco de Aparecido
A princípio esta afirmação, se é possível que se a compreenda assim, com tal potencialidade incisiva; dotada de um teor afirmativo, pode-se, no entanto, pô-la em xeque. Sobretudo no mundo atual onde reina o sentimento empírico, ou talvez, poderia aqui dizer empirismo totalizante, onde o que pode ser, por assim dizer, crível é tão somente aquilo que pode ser demonstrado empiricamente, através de “provas” comprobatórias daquilo que se pretende dizer ou afirmar.
Esta frase, então, deve soar como algo fora da realidade; pois afirmar que o homem é capaz de Deus, não é facilmente compreendido por muitos dos que se julgam fazer bom uso da sua faculdade de pensar; por muitos denominada faculdade da racionalidade humana. Até mesmo aqueles que se julgam Teólogos poderiam discordar desta afirmação se não a compreendesse num sentido gramatical de sua força transcendental implícita no seu teor afirmativo; resumidamente, eu poderia dizer aqui simplesmente, que diz muito mais do que aquilo que está escrito nos caracteres ai expressado. No entanto, cabe buscar e salientar tal pensamento.
Muitos já se debruçaram sobre esta afirmação, e simplesmente muitos não conseguiram satisfatórias respostas para suas reflexões, sejam elas breves ou longas. Enfim coube também a eu debruçar-me um pouco sobre tal frase: “Hominus capax Dei est”.
O fato é que o próprio enunciado torna-se dúbio diante das mais recentes construções de pensamentos empírico. Afinal todo aquele que crê sabe que o “objeto” de sua crença é sempre algo abstrato, se levado em conta às propriedades da “matéria” em que se crê. Porque geralmente uma manifestação religiosa por parte do ser humano se deve quase toda sua aderência no “pós-morte” de seu sujeito de crença; como é o caso, por exemplo do Cristianismo, especificamente no crença naquele que constitui a segunda pessoa da chamada por estes “Trindade”, que ao entrar na História dos homens se fez igual a estes para revelar o Pai[1].
Também há aquelas crenças em deuses ou deusas que nunca “puderam” habitar entre seus veneradores (as), como é o caso de boa parte dos deuses (as) dos povos mais “primitivos”: Sumérios, Egípcios, Gregos, como por Exemplo: Anshar (deus dos céus da Suméria); Isis (deusa da fertilidade egípcia); Zeus (pai dos deuses na Grécia antiga). Alguns desses deuses nunca habitaram entre os humanos, pelo fato de que alguns são lendas, mas de certa forma m modo de compreender a vida, diante do mistério do inexplicável, o próprio ser humano.
Se submetêssemos estes deuses às provas empíricas certamente chegaríamos a uma resposta semelhante às que chegou muitos dos que se deram o luxo de se debruçarem sobre a frase em questão, a saber, O homem é capaz de Deus. E ainda que isso não seja nosso foco principal, não podemos falar em um Deus hoje sem imaginar se isto é de fato razoável acreditar em tal divindade ou se há ao menos vestígios desta possibilidade vir a ser ao menos crível do ponto de vista da razão.
Assim creio eu que para se falar de que o homem é de fato capaz de Deus é preciso recorrer a muitos escritos daqueles que sem duvida foram mais dedicados e inquietos com as mesmas questões hoje quase abandonada por uma boa parte da humanidade. Ainda que este abandono das questões mais tocantes ao ser homem do homem[2] venha a implicar em sua incapacidade de encontrar concomitantemente um sentido veraz para sua existência neste mundo, onde poucos dos que acreditam são capazes também ao mesmo tempo de aprofundar na busca do conhecimento daquilo que se crê ou diz crer.
O fato é que para não me delongar demais, entremos nos casos de algumas afirmações do início do cristianismo, que é de fato o que me é mais importante abordar neste pequeno fragmento de palavras costuradas para formar um pequeno texto, que talvez possa, por assim dizer, ser chamado de textos reflexivo.
São Basílio[3] por exemplo, afirmava: “que uma primeira idéia da existência do Criador pode alcançá-la somente a razão observando a criação”. Posteriormente um cientista astrólogo chamado Galileu Galilei[4] disse que: “É possível um homem olhar para a Terra e dizer que não acredita em Deus, mas é impossível olhar para o Céu e não crer”.
Mais tarde Blaise Pascal[5], filósofo, Matemático e físico afirmou que: “Só a Verdade dá segurança, só a busca sincera da verdade dá repouso”. Para os cristãos essa Verdade é o Cristo. Que nenhum ser humano deixa de busca-lo seja de uma forma ou de outra, podem até rejeitá-lo, mas não cessa a angustia investigativa, detectada facilmente em qualquer ser racional.
Saindo do assunto pra ver se é possível compreender por que se dizem por ai que o homem não é capaz de Deus, ou que Deus limita o homem, etc.
A definição de verdade segundo o dicionário Larousse[6], segundo este a Verdade é: “Identidade de uma representação com a realidade; exatidão, autenticidade”. Vemos aqui uma “simplória” e supérflua resposta dada ao que pode vir a ser a verdade. Fato é que dada esta definição creio que os mais “espertinhos”, [7] já podem perceber que buscar Deus é perda de tempo se se diz que Ele é Verdade Suprema; pré-supondo que ainda lembra-vos do inicio deste texto e da definição do dicionário, nãose pode encontrá-lo, porque não tem nexo com a realidade. Logo não pode ser provado cientificamente. Muito lógico, pois se o Deus dos cristãos for provado cientificamente, seria mentira ou não seria Deus.
Dito isto creio que podemos retonar ao passado; sim ao passado, porque até agora citei pessoas que viveram depois de Cristo, então voltemos ao passado, e podemos até mesmo voltar antes de Cristo, pois se Cristo é procedente do Pai, gerado não criado, Ele é para os cristãos a Verdadeira identidade do Pai revelada e feito Homem, que habita, entra na história e os dá de graça[8] a salvação e mostra-os a Verdade. Conclui-se que se Deus é a Verdade, pode-se de forma ousada afirmar aqui Deus e Verdade São equivalentes, se compreendido o sentido do paragrafo, (Deus=Verdade).
Assim o homem é capaz da Verdade, logo é capaz de Deus. Esta é como diz Sócrates[9], embora que não explicitamente, pois ele (Sócrates) apenas diz: “Nenhuma ameaça ou nenhum suplício obterão que eu cometa injustiça, que eu diga mentiras ou que deixe de pesquisar a verdade”.
A verdade que Sócrates buscava, era algo tão precioso assim, que ele foi como nos relata a história capaz de morrer por ela? Bem ao menos parece que sim. Ainda que haja suspeitas de que Sócrates não tenha existido, há também “suspeitas” de que ele tenha existido; como provar tal fato? A ciência se achar pertinente vai debruçar sobre o assunto, chegando á duas respostas óbvia, SIM ou NÃO.
O fato é que ainda que ela afirme a existência ou não de Sócrates não poderá dizer o valor da Verdade que ele buscava e foi capaz de morrer por este valor, no caso de uma afirmação positiva. Caso negue sua existência, não poderá sustentar o que levou alguém, então, a cunhar tal frase e por à boca dele.
Assim tal qual se aplica a pessoa de Cristo, por mais “avançada” que esteja à ciência nunca poderá dar o sentido pleno da Verdade que Jesus julgou ser a revelação e cumprimento do que disse os “Profetas” através da História da Salvação da humanidade, no caso aqui pode dizer daquele que creem e não creem. Por isso posso legalmente fazer uso da frase SALVAÇÃO DA HUMANIDADE.
Os homens, então, a partir de Cristo encontram as portas abertas para a eternidade, claro que isso é devido à misericórdia do Pai para com a humanidade em seu plano salvifico desde o princípio da criação[10].
Neste caso pode-se agora compreender melhor, talvez a afirmação feita acima de que a Salvação seja de graça. Esta Salvação concedida de graça, gera muita confusão diante da, da frase em questão: “hominus capax Dei est”. Visto que se se pode afirmar que o homem é de fato capaz de Deus, ou seja, por sua Razão hibridamente ligada com a fé, pode haver quem diga então, que o homem pode encontrar Deus. Isso deve ser bem compreendida porque só diante da razão o ser humano não chega a Deus, nem pela fé, simplesmente, é preciso uma união das duas, ao mesmo tempo em que, nem uma nem outra é capaz de encontrar Deus, porque como diz Wittgenstein[11]: “um Deus que pudesse ser encontrado pelo homem ao final de seu caminho, é um falso deus ou não é Deus”.
Porque na verdade quem encontra o homem é o próprio Deus[12], e no caso da Eucaristia naquele que é Caminho, Verdade e Vida, (Cristo). Uma vez compreendido isto pode-se, então, compreender que o homem é sim capaz de Deus, embora, seja por uso da razão e fe. Crença e prática. Vivência e testemunho. É caminhada, é luta, não guerra, mas os desafios do cotidiano é que nos leva santidade.
Assim todo aquele que busca viver fazendo uso da reta razão pode chegar a Deus, porque através da criação Deus se revela aos seus e vem ao seu encontro, ao encontro dos que o buscam. Dando ao ser humano plena liberdade de buscá-Lo na comunidade cristã de vida e testemunho. Não exclusi a possibilidade de encontrar e ser encontrado por Deus Pai atravéz de Cristo fora da Igreja e de qualquer religião.
Logo a capacidade (razão) do homem de buscar Deus esbarra, senão caminha lado a lado com a fé, como bem expressa o documento fides et ratio de Beato João Paulo II. Onde retoma na verdade diversos argumentos dos Santos Padres e doutores da Igreja, desde os primeiros séculos do cristianismo. Ora ou se admite que o ser humano é capaz de Deus ou não se admite que este, o ser humano, de fato tem condiçoes de viver a Verdade entre si, que é um e o seu maior mistério à si mesmo. Descobrindo-se quem é o homem descobre-se quem pode vir a ser Deus [...] (continua)
[1] Pretendo abordar mais especificamente este assunto Soteriológico mais à frente, isto é, noutro artigo.
[2] Para esclarecimentos melhor desta frase verifique os artigos anteriormente postados intitulados de: “ Questões aporéticas” (parte I) e “A honestidade do verdadeiro filósofo”.
[3] Nascido por volta do ano 329 d. C.
[4] Nascido em 1564 d. C.
[5] Nascido 1642 d. C.
[6] Ano de Publicação 2005.
[7] Espertinhos aqui no bom sentido da palavra. Àqueles que se dão o exercício de pensar.
[8] Graça aqui compreendida no sentido Paulino, ou seja, de São Paulo.
[9] Nascido por volta do ano 469 ou 470 a. C.
[10] Sobre isto também pretendo me debruçar noutra reflexão.
[11] Ludwig Joseph Johann Wittgenstein (Viena, 26 de Abril de 1889 — Cambridge, 29 de Abril de 1951).
[12] Por isso há um costume, por assim dizer, que muitos não sabem, mesmo porque muitos Sacerdotes não o fazem, de sempre o presidente da Celebração Eucarística, mesmo que haja ministro “distribui” a eucaristia, ainda que seja para um numero pequeno de participantes. Quando é o caso de que haja diversos ministros ou por necessidade de agilidade, este (o presidente) da Celebração detém-se aos que o circunda no presbitério que seja; mesmo que haja Diáconos. Porque o Símbolo/gesto, que vai, além disso, esta carregada desde sentido de que o homem procura Deus, mas é o Deus que vem ao seu encontro. Não se pode imaginar, que eu esteja estabelecendo uma nova norma, mas apenas explicitando o sentido desta comunhão, partilhada nas celebrações que já existe. Creio ser necessário dizer aqui que, aos que verem a eucaristia como uma ação dos primeiros cristãos, poder-se-ia pensar que é apenas um alimento partilhado, pós escuta da palavra, correção fraterna e que culmina com a partilha dos alimentos. Não estenderá o sentido acima exposto por mim. A menos que veja na Celebração o próprio Cristo que se doa e vem ao encontro dos que o buscam.