Há algo de Bom no Mundo
Há algo de Bom no Mundo!
Por Everaldo Francisco de Aparecido, scj
Recentemente estive durante o período da Semana Santa numa paróquia em Minas Gerais, onde pude durante sete ou oito dias perceber, constatar e identificar diversos elementos comuns á outras regiões do Brasil onde as pessoas ainda buscam a Deus enquanto Ele se deixa encontrar, (aqui faz se preciso creio eu relembrar, que filo-teológicamente não é o ser humano que encontra Deus, mas Deus que vem ao seu encontro), sem cair numa dicotomia de que ao ser humano nada cabe fazer para conhecer a Deus, porque é mesmo Deus que o busca incessantemente.
Contudo é sabido, que é de fato, Deus que “procura” os seus para resgatá-los da escravidão do pecado dando-lhes por graça e pura graça o dom da vida eterna em Cristo, que recentemente celebramos na Páscoa, a saber, última lua cheia do mês de abril de 2012. Isto porque a Páscoa oscila sua data entre um ano e outro devido ao ciclo de 28 dias das quatro fases da lua: minguante, nova, crescente e cheia. Fazendo também, embora enriquecido de sentido cristológico para os cristãos, pois a Páscoa para estes, os cristãos, o verdadeiro e fundamental sentido, ápice de sua fé é na Ressurreição de Cristo.
Pude perceber que há algo de bom no Mundo, pois como refletíamos entre nós lá durante as diversas celebrações, se Deus pode ser traduzido por alguma frase cunhada na força da verbalização humana, só poderia ser DEUS É AMOR, pois o Amor na nossa mentalidade racionalizada de seres humano é a única “coisa” que se divide sem se diminuir e sem ao menos perder sua totalidade; algo talvez complexo para se entender sem conhecimento de causa; refiro-me ao conhecimento empírico de um profundo amor, ainda que no âmbito humano talvez não seja de fato possível conhecer plenamente o amor.
Enfim lá pude encontrar diversos jovens que vão as igrejas, crendo ao não num Deus Amor. Num Mundo onde tudo parece ser sem sentido transcendente, ou ao menos que não tem sentido mais crer, porque a humanidade não encontrou provas empíricas de que Deus se fez carne e habitou entre nós, (cf. Jo 1,14). Mas atribui-se ao Jesus histórico esta faculdade messiânica. E que muitos ainda não crêem.
O testemunho de fé de muitos daqueles jovens que lá encontrei me fez relembrar um frase do filme “O Senhor dos Anéis”, (trilogia) que diante da suprema dificuldade em vencer a grande montanha onde se poderia destruir o mal, arraigado no ANEL, símbolo de uma aliança vingativa desejosa de domínio do Mundo, os dois principais personagens, a saber Frod e Sam, se encontram desolados num espesso deserto na subida da montanha da perdição; sem de fato terem se quer conhecido empiricamente a história da formação de todo mal existente e de suas possibilidades limitadas de por um fim naquele mal inquietante.
Diante desta situação quando Frod lamenta sua fragilidade humana diante das circunstancias em que se encontra quase que admitindo não poder mais caminhar, seguir o caminho que os proporcionaria destruir o ANEL, chega a dizer: não Sam, nós não podemos, é mais forte do que nós, não podemos vencer todo o mal que circunda esta realidade mundana. E questiona-se dizendo onde esta o sentido disso tudo? Porque não ficaram no Condado, seus lugares de origem? Nunca devíamos ter saído de lá[1].
Sam parece fazer um profundo silêncio e responder num tom de certeza ou crença que revigora, por assim dizer, a vida e caminhada de Frod; dizendo: sim, senhor Frod, nós podemos, podemos vencer este mal. Veja não estamos sozinhos algo chamou a atenção do olho para o outro lado. Noutra parte diz: podemos vencer, porque se tantas pessoas antes de nós deram suas vidas por um ideal, por um mundo melhor, é porque certamente estas pessoas viram algo de bom no Mundo, algo tão Bom que realmente valia a pena sacrificar a própria vida[2]. Tudo isto podemos dizer aqui que culmina na subida da montanha quando Frod cai não suportando mais o “peso” do anel, e Sam, então, lhe diz: vamos senhor, Frod, eu não posso carregar o anel pelo senhor, mas posso carregar o senhor.[3]
Enfim durante a semana santa juntamente com aquele povo que rezava e intercedia para que a saúde se difunda sobre a Terra, pude notar que há sem duvida algo de muito bom no Mundo, algo que vale a pena dar a vida. Ainda que muitos digam que não é possível mudar nada, pois estamos sufocados e afogados pelas dicotomias do mundo moderno.
Não me pareceu nada de semelhante ao mundo moderno, ver aquela gente caminhando e cantando e dentre aquele povo jovens que são capazes de sair à rua com um carro de som ligado num volume estridente, mas com musicas religiosas louvando e agradecendo a Deus, se divertindo da melhor forma possível.
É de fato revigorante passar um tempo assim, me fizeram lembrar com seu jeito simples, mas aconchegante de acolher, um outro lugar onde passei três anos de minha vida. Relembrar que dando as mãos é possível vencer o “invencível” mundo que grita vinte e quatro horas por dia aos ouvidos da humanidade deixando-a surda, cega, sem direção. Há algo de bom no mundo.
Há algo que ainda não conseguimos notar, que certamente atraía aquelas pessoas para um único lugar, que muitos chamam esperança de vida eterna, pela qual vale a pena sacrificar os prazeres do mundo; para que por graça e pura graça do amor inesgotável de Deus Pai receber em dobro ou cêntuplo, as renuncia feitas neste mundo, com muito mais vida e felicidades.
Enfim isto nós chamamos de Páscoa. E é isto que celebramos a passagem desta vida para a vida eterna, sobretudo, dos nossos irmãos já falecidos, que deram suas vidas por construir um mundo melhor, e se neste mundo tudo parece ser sem sentido, então lembremo-nos das pessoas que já fizeram suas doações para mudar para melhor e ergamos a cabeça, porque o caminho é longo, mas a força que vem do ressuscitado é infinita. Afinal a vida após a Páscoa é infinita, noutras palavras é eterna.
E esta eternidade é que nós buscamos, vivendo já aqui o que há de bom no Mundo e nisto entra a amizade, por isso meu obrigado a todos os Cauesistas[4]. Que o Bom Deus lhes mostre sempre e a cada dia que há sim algo de Bom no Mundo pelo qual vale a pena lutar e dar a vida. “E vós sois as testemunhas disso”. (cf. Lc 24,48).
[1] As palavras justapostas aqui não aparecem nesta mesma ordem e explicita como é utilizada aqui, mas de forma dispersa no filme, ou se preferir de forma distribuída e enigmática.
[2] Considere a mesma proposição explicada acima.
[3] Reconsidere a nota 1.
[4] CAUESISTAS, membros do grupo CAUE. E CAUE = Cristo: Amor, União e Esperança.