Desafios da Igreja: Fé Esperança e doutrina no mundo atual

12/10/2012 18:52

 

Desafios da Igreja: Iniciação, Pregação, Fé e Doutrina

Por frater Everaldo, scj

OBS: Qualquer frase mal entendida, poderá ser solicitada explicação através do endereço everaldofco@gmail.com escreve para este email.

 

Um dos grandes desafios da Igreja na atualidade é sem dúvida, dentre tantos outros, encontrar uma linguagem que seja louvável na iniciação e pregação da sua fé[1] e doutrina. Não é de se questionar aquilo que já fora questionado e há unanimidade em aceitar e compreender que diante da fé, esta é dom de Deus; não obstante cabe a Igreja promover momentos celebrativos que favoreça o “avivamento” deste dom de Deus. Considerando que mesmo sendo dom se não cuidado, alimentado, pode por assim dizer “apagar-se” ou certamente cair na profunda tibieza.

A maioria das pessoas que recebem os Sacramentos de Iniciação não sabe o que estão recebendo, não fazem idéia, do sentido do mesmo, e muito menos da eficácia deste sinal em sua vida.

Certamente que há quem questione o fato de ser o Batismo, o primeiro sacramento da tríade de iniciação, quando ainda se é criança (bebê). Justamente por não compreender o porquê deste sacramento e qual o sentido de batizar crianças, que passam então a fazer parte da comunidade cristã. Há quem diga que não deveria ser recebido quando criança, mas só quando fosse “adulto”, “maduro o suficiente[2]” para responder por si e por sua fé.

Neste quesito, certamente ninguém seria batizado, porque não haveríamos de encontrar alguém adulto suficientemente, (maduro) que possa estar plenamente disposto, (preparado) para receber tal sacramento que traz em si uma “dignidade” singular, não sendo o ser humano em suas limitações, capaz de estar amadurecido o suficiente para recebê-lo.

No, entanto, se é dado (concedido) as crianças é porque de fato elas passam a fazer parte da Igreja corpo místico de Cristo e Nele e Dele recebem forças para caminhar rumo ao amadurecimento da fé, e aprofundar no conhecimento do sacramento que recebeu.

Não compreendendo que o sacramento de iniciação é como diz “INICIAÇÃO” não haverá quem o possa receber, e muito menos ainda que não haja quem esteja dispensado dos compromissos assumidos com estes sacramentos de iniciação.

Na Linguagem da Igreja “completa” os sacramentos da iniciação quem recebe a crisma, ou seja, prepararam-se devidamente os pais e padrinhos para que a criança na fé da Igreja e dos pais e padrinhos fossem batizados, e depois o próprio individuo, foi preparado devidamente para receber os sacramentos da primeira comunhão e Crisma, (confirmação).

A não compreensão deste pressuposto, a saber, sacramento de iniciação, traz em si uma imensa dificuldade que nós encontramos nos dias de hoje. Porque são sacramentos de INICIAÇÃO e não de conclusão. Uma vez recebido estes três sacramentos a pessoa esta, ou deveria estar preparada e disposta a aprofundar na sua caminhada de comunidade, na doutrina de sua Igreja e na sua Experiência de fé.

 Quando a Igreja faz uso do “termo” iniciação é porque de fato é iniciação, ninguém que recebeu estes sacramentos está dispensado da vida em comunidade, dos serviços da sua comunidade, da “obrigação” de anunciar aos outros a Boa Notícia, mas a maioria, senão quase todas as pessoas, veem o sacramento da crisma como conclusivo, (final) da caminhada de cristão. Ainda que sem perceber, pois é assim que se comportam. Embora continuem a frequentar a comunidade.

Se fosse claro para às pessoas que estes sacramentos são de iniciação e não de conclusão nossas Igrejas estariam repletas de pessoas que desejariam conhecer melhor e aprofundar no conhecimento de sua doutrina, fé, experiência e caminhada. Destaco ainda aqui o quanto seria fácil fazer encontros de formação com as mesmas se isto lhes fosse compreendido desde o sacramento da crisma.

Naturalmente poderiam ser marcados encontros e 70 % ou 80% dos crismados estariam presentes para conhecer melhor sua Igreja e fé, aprofundar na vivencia em comunidade e dispostos a anunciar a Boa Nova do Reino. Porque todos ou quase todos saberiam que precisam conhecer sua Igreja, sua doutrina, sua fé, sua comunidade. Sentiriam, por assim dizer, necessidade de encontrar-se para aprofundamentos e formação permanente, durante toda sua vida. Pois sabem que receberam os sacramentos da iniciação e não de conclusão.

Já quanto à pregação esta está claramente voltada ao despreparo dos seus lideres, que não conseguem fazer uma reflexão pertinente, aos poucos que vão as celebrações, ou não conseguem encontrar uma linguagem assertiva com poder persuasivo de seu conteúdo a ser passado.

Raramente alguém volta de uma celebração com desejo de retornar para aprender mais sobre os ensinamentos e convivência de teor celebrativo que viveu naquele encontro, sinal que nos deveria “atentar” os ouvidos para preparação dos nossos lideres. E dos nossos pregadores para a formação e encontro da linguagem adequada, acessível e pertinente.

Estou convencido de que quando alguém tem uma linguagem acessível, não tem “poder” persuasivo. Quando se tem persuasão não tem teor de pertinência. O que é de estranhar, porque necessariamente (naturalmente) poderia se dizer que quem tem uma linguagem persuasiva deveria por co-naturalidade ter uma linguagem pertinente. Mas não se dá assim, visto que se assim fosse o que diríamos dos diversos pregadores, que arrastam multidões para suas celebrações e no, entanto, não há frutos? Não há maturidade de fé?

Poderia dizer que não tem poder persuasivo? Não. Tem sim, mas não tem a pertinência; suas pregações consequentemente não leva ninguém a querer conhecer sua fé, sua doutrina, ou buscar uma constante acesse para um possível encontro pessoal com Jesus Cristo.

Quanto à doutrina de fato é um tanto quanto difícil expor, visto que se não bem iniciado, um possível cristão, tudo parecerá como as diversas frases que se ouve no dia-a-dia: “A Igreja proíbe, tudo” ou “tudo é proibido (pecado) para a igreja”, etc.

Não é verdade. Quando você ouvir alguém dizer estas frases pode refutá-lo sem temor, afirmando que nem tudo é pecado, nem é pesado ser cristão. O que falta é compreensão do que é ser cristão. Falta uso correto da linguagem para expor o que é ser cristão, enfim faltam pessoas qualificadas e “apaixonadas” por Cristo para expor e viver o que é realmente o cristianismo.

Não estou dizendo que aqueles que abraçam realmente a fé em Cristo não estejam sujeito a cair, mas estou dizendo que os que assim o fazem sabem onde se segurar para levantar-se, Cristo.

Há poucos dias tive um encontro com catequistas que me perguntaram como expor a doutrina se as crianças e adolescentes dizem que é muito limitativa a Igreja?

Na ocasião eu fiz uso de uma simples comparação, a partir do que diz São Paulo:

 

Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada[3]”.

 

“Scientes autem quod non iustificatur homo ex operibus legis nisi per fidem Iesu Christi et nos in Christo Iesu credidimus ut iustificemur ex fide Christi et non ex operibus legis propter quod ex operibus legis non iustificabitur omnis caro[4]

 

“Knowing that a man is not justified by the works of the law, but by the faith of Jesus Christ, even we have believed in Jesus Christ, that we might be justified by the faith of Christ, and not by the works of the law: for by the works of the law shall no flesh be justified[5]”.(*)[6]

           

Ora, sem dúvida, que Paulo quando faz uso desta linguagem de que os Cristãos não estão sujeitos a alcançar a salvação pela lei, mas pela fé, e que desta (a Lei) eles estão livres (libertos) em Jesus Cristo, em hipótese alguma Paulo quis dizer que os cristãos não devem seguir e obedecer a lei. Até porque quando São Paulo diz isto esta se referindo ao fato de que os Cristãos não estão mais sujeitos à lei antiga, ou seja, a Lei do antigo testamento ou de Moisés, mas que todos os que aderem à fé em Cristo estão libertos Nele e devem ser seus imitadores. Deve, então, ter como base o cerne do ensinamento de Jesus, o Amor, a Misericórdia.

Em segundo lugar, não quer dizer que não estão sujeitos a obedecer, mas que esta agora já não lhes é um peso, mas uma “naturalidade” porque todo aquele que de fato ama, não ofende o outro, não oprime o seu semelhante, logo não transgride a lei, e em consequência disse não estará sujeito a Lei. A lei não pesa sobre ele porque vive em harmonia, em comunhão, no amor e no respeito.

Exemplificando: Quando alguém esta sem roupa de frio, sente frio e se for tempo de calor sentira uma “fadiga” imensa se estiver com tal roupa “Blusa”, mas se o clima esta frio, não será nenhum incomodo, mas ao contrário será agradável ainda que a Blusa seja de lã e “pesada” (grossa), ela será tão agradável que ao invés de desconforto, trará estabilidade e uma sensação de bem-estar. Trocando o clima por uma temperatura de 35º C a 40º C será horrível ter que utilizar uma mesma roupa. E esta tornará um peso, causará um desconforto imenso.

Ousadamente fazendo uma leitura da afirmação de São Paulo é assim que se sente quem não abraçou a fé em Cristo de fato. É como se tivesse que vestir uma roupa de frio em tempo de calor e concomitantemente sentiria um imenso desconforto, um peso; mas para os que foram batizados, iniciados e aderiram ao Cristianismo, as suas “normas” Doutrinas não lhe é um peso, mas uma liberdade que porque o Amor liberta, aquece tal qual a blusa em tempo de frio, não causa desconforto, mas conforta e dá estabilidade.

Não haveria e não haverá para os verdadeiros cristãos as frases que a doutrina da Igreja seja peso, proibitiva, limitativa, como citado no parágrafo 15 (§15) acima. Mas uma liberdade, porque vivendo e interpretando a Bíblia a partir de Cristo e tendo-O como seu fundamento, Ele é amor e a pessoa estará em comunhão com o Amor, isto não lhe será pesado, mas agradável.

Não pelo simples fato da obediência ou sujeição a obediência extrema, mas porque vivendo no amor em comunhão vive retamente, que vive retamente não terá o que temer da lei, pois a lei visa o bem dos que vivem retamente, logo não infligirá a mesma, porque ela faz parte do seu agir, o reto agir de acordo com a própria razão.

Enfim de fato se constata a ausência de uma iniciação bem compreendida na religião, seus membros não entendem que os três sacramentos, a saber, até o da Crisma são de iniciação e não de conclusão, deveriam depois deles iniciar a verdadeira caminhada de cristãos. Isto não é novo a Igreja sempre entendeu assim desde Trento, quando os sacramentos foram definidos como sete.

Há também uma ausência de pessoas e lideres que tenham um poder persuasivo, no sentido de abordagem e homilias pertinentes, que despertem o desejo de conhecer mais sobre o que foi dito. Sobre a leitura proposta para aquele dia, tempo, domingo. A consequência é clara, no próximo domingo nem quem proclamou a leitura sabe qual era o texto. Porque ficou lá, não serviu para a vida nem para a vivência, nem para refletir durante o dia ou a semana. E o que foi “explicado[7]” se é que foi não o foi de forma pertinente, não provoca o desejo de conhecimento da própria fé, nem nos congregados de conhecer mais sobre o que foi dito.

Tudo, então se torna um mero “rito[8]” incompreendido, que não inicia ninguém, nem desperta interesse de crescimento, maturidade espiritual de fé. E a Doutrina[9] fica como um fardo pesado, porque não houve aderência à fé, a comunidade, a suas “normas de vida” em comum (comunhão).

Não há a mesma resistência quando se quer ingressar num clube, mas se respeita as normas “regras” deste ou não se pode pertencer, ninguém questiona. Seria porque há uma prévia aderência? Ou seria simplesmente porque a aderência é de forma intergral? Considerando ambos os pressupostos, não deveria ser assim na Igreja?

Pense nisso!

 

 


[1] Fé em Cristo Jesus, Encarnado, Morto e Ressuscitado; fundamento da fé da Igreja.

[2] Maduro = matura: entendido com como pessoas capazes de responder em nível do uso da razão por seus atos e escolhas.

[3] Cf. Gálatas 2,16.

[4] Idem.

[5] Idem.

[6] Quanto às traduções nos idiomas citado vede: www.biblestudy.pro

[7] Explicado = na maioria das vezes nem é explicado, se retoma a parte a leitura, em fragmentos o que é lamentável a meu ver, sem dar a mínima interpretação reta de acordo com o que a Igreja pensa e muito menos para a vida, por isso fica esquecida.

[8] Quanto ao Rito vede: A reforma mais recente dos textos do missal aconteceu durante e após o Concílio Vaticano II, onde o papa Paulo VI, através Constituição Apostólica Missale Romanum, promulgou a mesma. O Papa João Paulo II promulgou, em 2002, a terceira edição típica do novo Missal Romano, que ainda não foi traduzida para o português. Antes da grande reforma litúrgica efetuada por Paulo VI, o Missal Romano previa a celebração da chamada Missa tridentina, que era a forma anterior do rito romano e cujo uso foi amplamente restaurado pelo papa Bento XVI através do motu proprio Summorum Pontificum e da instrução Universae Ecclesiae. A forma ordinária da celebração da Missa segundo o rito romano continua a ser a do Missal Romano reformado e publicado por Paulo VI (chamada também de Novus Ordo Missae).

[9] Quanto a Doutrinas vede: Catecismo da Igreja Católica, que é especificamente de teor doutrinal explicativo.