A Igreja e sua Missão na "Ausência de Deus"
A Igreja e sua Missão na “ausência de Deus”
Por Frater Everaldo scj
“A Igreja é peregrina, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na ‘missão’ do Filho e do Espírito Santo”.[1] Assim diz o documento Ad Gentes referindo-se a grande e sempre contínua tarefa da Igreja, SE quer ela e seus fiéis permanecer fiel ao seu compromisso confiado pelo próprio Cristo aos seus Apóstolos e a todos os que o desejam seguir este ideal e propósito de vida cristã na fé da Igreja e na comunhão dos “eleitos segundo a presciência de Deus Pai[2]”.
Bem, não é difícil de notar que na “ausência” de Deus, não por parte de Deus, que é Emanuel – Deus Conosco[3] – mas por parte do ser humano, é um grande desafio, não maior que tempos idos, no, entanto, muito árduo e laborioso tem se tornado o desafio de evangelizar.
Não obstante é preciso manter viva a autenticidade de que deve ter quem se declara seguidor de Cristo, o que Ele pediu aos seus e continua a solicitar nos corações de cada um de nós: “Ide pelo Mundo inteira e anuncia o Evangelho a todas as criaturas[4]”.
O tema do Dia Nacional da Juventude deste ano propõe que as igrejas remodelem ao modo comunidades de comunidades: uma nova Paróquia passe a prezar mais pelo entusiasmo da Juventude neste trabalho de anunciar e fazer que todos conheçam a Cristo e sejam conhecedores da Verdade libertadora do Evangelho.
Ao meu modo de ver por dois motivos: 1º Os jovens sentem uma ausência de Deus, devido aos grandes avanços tecnológicos e a pouca adequação da linguagem literária para que eles entendam o que é ser jovem cristão, poderíamos dizer “jovens conectados”; pergunta-se aonde, quando e em que? 2º Nossa Educação esta defasada no quesito religião e religiosidade, fazendo com que não se fala mais em Deus nas nossas escolas e famílias, logo este SER DEUS é em grande parte desconhecido, algo totalmente “novo”- e velho demais pra se falar Dele - ligado não poucas vezes aos que vão nalgum grupo, exacerbando o sentimentalismo extremo e imediatista, que propõe uma santidade tão radical que leva grande parte dos membros a desistirem, dos propósitos do próprio grupo.
Estranho? Não, natural, porque é como aquele construtor de que fala o Evangelho que antes de construir a casa ou sair para a guerra não parou e pensou antes se tinha reservas para contruí-la ou se com suas forças de guerra poderia vencer o inimigo que marcho com 10,000 soldados contra seus 5.000.
Fato é que os atuais grupos de Jovens não “CAUSAM[5]” nada mais como já fora em idos anos, logo não desperta desejo algum da nossa juventude que quer a todo custo ser grande aparecer, desejo algum de ser membro de um fermento transformador na sociedade, como nos diz e convida a palavra: “Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo e o fermento na massa”:
Vós sois o sal da terra: O sal conserva e dá sabor, assim também vós deveis ser (…) Se o sal perder a sua finalidade ele não cumpre a sua missão na Igreja e no Mundo.
Vós sois a luz do mundo: A Luz ilumina os caminhos (…) Devemos iluminar o mundo com a Luz, que é o nosso Deus.
Vós sois o fermento na massa: O Fermento desaparece na massa e a faz crescer (…) Devemos fazer as coisas por amor, gratuitamente, sem querer se aparecer[6]”.
Nota-se que causar é ser diferencial, e a isto somos chamados pelo próprio Cristo, a linguagem jovem hoje é que dá uma conotação de força de expressão que parece ser ruim em si, mas não o é.
Assim a Igreja no Brasil convida você jovem a doar-se pelo Reino, ser Missionário destemido na vivência da Fé, Esperança e Caridade. Recordo aqui os moldes do DNJ[7] “Tema: Juventude e missão Lema: Jovem: levante-se, seja fermento! Iluminação: “Quanto a você, arregace as suas mangas, levanta-se e diga a eles tudo que eu mandar. Não tenha medo” (Jr 1,17b)[8]”
Ora já no documento AD GENTES de tempos idos, mas a missão perpétua da Igreja e dos fiéis, diz que: “A Igreja tem de estar presente a estes agrupamentos humanos por meio dos seus filhos que entre eles vivem ou a. eles são enviados. Com efeito, todos os fiéis cristãos, onde quer que vivam, têm obrigação de manifestar, pelo exemplo da vida e pelo testemunho da palavra, o homem novo de que se revestiram pelo Batismo, e a virtude do Espírito Santo por quem na Confirmação foram robustecidos, de tal modo que os demais homens, ao verem as suas boas obras, glorifiquem o Pai e compreendam, mais plenamente o sentido genuíno da vida humana e o vínculo universal da comunidade humana[9]”.
Embora o clamor e reconhecimento da Igreja pelo trabalho que os jovens podem e devem realizar como cristãos batizados, seja muito claro, há muitos grupos que se contentam em ficar em sua paróquia e jamais dá um passo se quer para anunciar o Evangelho deve ser o motivo impulsionador de todas as pastorais e movimentos na e da Igreja, seja ela particular[10] ou Universal.
Nossos jovens não mais se encontram com Cristo, mas fazem em boa parte uso da Religião pela possibilidade de aparência, ou seja, como não se tem uma experiência originaria com o Cristo, o sensível é posto como experiência verdadeira, mas não o é.
O problema é que a falta de uma experiência originária leva a missão de anunciar ao fracasso, pois quem não tem uma profunda relação com Deus e o próximo não é capaz de anunciar este Amor Infinito que sente que Deus tem por si e por seu semelhante.
Ora a ausência de Deus que intitulei estas linhas é exatamente uma tentativa de ressaltar que ela é detectável devido à falta desta experiência Originaria da fé cristã que se dá no encontro com Resuscitado.
Foram estes encontros que fizeram com que os Apóstolos deixassem tudo para seguir o Mestre, porque viam e ouviam seu propósito de vida, como uma vida plena[11] e abundante para todos, quando digo isto estou incluindo a felicidade pessoal também, que é depois da liberdade[12] o estado de vida mais buscado e, no entanto, mais temido por todas essas gerações mais recentes.
Sim medo, por incrível que possa parecer, o maior medo dos jovens atualmente, e jovens aqui incluo ambos os sexos nas faixas etárias de nascidos de 1975 para cá. É lastimável o número de pessoas que entrevistadas sobre o futuro e realização o maior medo delas é: 1- não ser feliz; 2 – ficar sozinha (o); 3 – não poder dizer o que quer – não ter liberdade para tal.
Deste modo quando há muitos jovens nas Igrejas e não nasce desperta nenhuma vocação à vida consagrada sacerdotal, significa entre outras “coisas” que por mais que pensemos que estamos bem, não estamos porque nosso modo de vida, não atrai ninguém. Ora, se vou num lugar e digo que é maravilhoso naturalmente os outros desejarão ir também, mas se não digo nada, é porque não é bom, e se é bom e não digo sou indigno de tal vida, pois é um ato de extremo egoísmo.
Os discípulos só deixaram tudo porque o testemunho de cristo devia ser muito bom mesmo, alem da capacidade “poética” que Ele tinha em contar histórias do Reino que faziam até mesmo os adultos ficar “babando”, como se estivessem saboreando aquelas “realidades” que certamente na maioria das Parábolas nunca existiram enquanto fato, mas ilustravam a vida futura e a liberdade dos filhos de Deus.
Nós temos discursos bons, do ponto de vista da razão e articulados, mas longe de levar alguém a “sonhar acordado” com o que falamos, e a meu ver ai esta o nosso maior erro no trabalho de Missionários (as), religiosos e Religiosas, Padres e leigos.
Falamos bem em cultivar uma vida de Oração, e de fato a missão só se dá quando há vida de oração, mas quando saem da Igreja não se lembram de mais nada do que se ouviu lá dentro. No próximo domingo, e isto é muito estranho ninguém ou quase ninguém consegue lembrar-se do eixo central da celebração anterior.
Há muitos discurso e palavras, mas é notável a ausência de Deus no cotidiano das pessoas, este fato põe ou deveria por a Igreja em estado de Alerta, pois aquilo que lhe é mais caro carece de um novo modo de anunciar sem perder o que lhe é Original, a mensagem de Libertação e de Vida Plena em Cristo, a felicidade e realização pessoal na comunidade e a serviço da comunidade.
Ir além é para os que ainda conseguem ver Deus no próximo, mesmo quando parece que não temos mais profetas e sacerdotes, que nos façam relembrar os grandes feitos do Senhor. Certamente nos exclamamos como outrora: “Derramem lágrimas meu olhos, noite e dia, sem parar, porque um grande mal feriu nossa humanidade, os filhos e filhas de meu povo, sofreu um terrível golpe. Se eu saio para os campos, vejo cadáveres abatidos á espada; se entro na cidade, deparo-me com gente consumida pela fome; até os profetas e sacerdotes andam á toa pelo país[13]”.
Poderia haver maior angústia que ver uma sociedade dilacerada como a nossa pela incredulidade e hedonismo?
Pode por ventura repousar em paz meu coração, quando vejo meu irmão como cadáveres abatidos pelo chão da cidade, do campo, seja pela fome, seja pelo egoísmo?
Poderia haver espadas mais cortante e dilaceradora que a falta de Esperança?
Pode haver fome mais desoladora do que assistir ao noticiário que produzimos milhões de grãos e alcançamos um recorde nunca antes alcançado, enquanto também ultrapassamos um número de famintos nunca antes contabilizados?
Não sei se alguém consegue ficar em paz diante desta contradição factual. Mas para eu, isto parece que nos chama à missão, sobretudo nós jovens, porque devíamos nos questionar sobre tais fatores históricos. Ai Deus parece estar distante, ausente dos corações dos que dizem ser cristãos e não olham para o próximo.
Pedi, pois ao dono da messe que envieis mais operários, pois a messe é grande e os trabalhadores são poucos[14].
[1] DECRETO AD GENTES SOBRE A ATIVIDADE MISSIONÁRIA DA IGREJA. Cf. Conc. Vatic. II Const. dogm. De Ecclesia, Lumen Gentium, n. 2: AAS 57 (1965), p. 5-6.
[2] 1 Pd 1,2.
[3] Emanuel (Hebraico: עמנואל, "Deus conosco") é um nome profético que se referia à vinda do ungido de Deus a Terra, frequentemente usado para se referir a Jesus Cristo, por este ter cumprido dezenas de profecias que anunciavam a vinda do Messias, segundo traduções cristãs da Tanakh, por estes chamadas de Antigo Testamento. Dentre as traduções, há uma muito conhecida do profeta Isaías, que diz: "Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel" (Is 7,14 e Mt 1,20-25).
[4] Cf. Mc 16,15.
[5] Não quero dizer que CAUSAR seja bom, mas não e de todo ruim, na linguagem atual é mais ser motivo de interesse de agregação dos novos membros, ser de fato diferencial, daí não foge do Evangelho que convida a ser Fermento, Sal e Luz do Mundo e para o Mundo.
[6] Cf. Mt 5,13-14.
[7] Dia Nacional da Juventude 2013.
[8] https://www.jovensconectados.org.br
[9] Cf. AD GENTES. Art. 1; Nº 11. O TESTEMUNHO CRISTÃO.
[10] Por Igreja Particular entenda-se a Diocese, como prescreve o CIC.
[11] Jo 10,10.
[12] Cf. Jo 8,32.
[13] Jr. 14,17-18.
[14] Cf. Mt 9,37-38.