A honestidade do verdadeiro Filósofo

02/03/2012 23:33

TEODICÉIA[1]

Por Everaldo Francisco de Aparecido

 

 

            Desde o princípio da Filosofia, na antiga Grécia, esta esteve empenhada a buscar a verdade. Tendo sua origem na palavra grega, Φιλοσοφία: philia - amor, amizade + sophia – sabedoria; compreendendo assim que esta nada mais é, então, que amor pela sabedoria, que por sinal constitui sua essência, amor a sabedoria.

Uma vez que consideramos afirmativa esta frase, fica então, claro que a essência da mesma é buscar e não definir o que é sabedoria, conhecimento, crença, mito, objetos, natureza, ou outra coisa qualquer; definir o que é, um determinado objeto ou outra coisa que seja, é papel das ciências exatas e não da Filosofia, que consiste na busca do conhecer, seja a verdade, seja o Amor, seja Deus ou a natureza.

Na modernidade, a filosofia, é uma disciplina que envolve a investigação, análise, discussão, formação e reflexão de idéias em uma situação geral, abstrato ou fundamental.

Acredita-se que a origem desta, da Filosofia, deu se pela inquietação gerada pela curiosidade humana em compreender e questionar os valores e as interpretações comumente aceitas sobre a sua própria realidade. As interpretações comumente aceitas pelo homem constituem inicialmente o embasamento de todo o conhecimento. Bem, nem por isso o homem deixa de tentar definir as coisas usando da Filosofia, tendo por instrumento a razão humana. A meu ver o que já consiste num erro, pois a essência da mesma não é definir e sim buscar.

Uma vez compreendida a essência da Filosofia, podemos partir para a inquietude do homem que o faz perguntar-se por Deus, se existe mesmo, é possível defini-lo através da razão, da Filosofia, da Teodicéia, um ramo da filosofia?

Certamente a resposta mais lógica será, não. Visto que a essência da Filosofia não e definir, logo tudo o que quer ser definido, deverá ser estudo pelas ciências exatas e não pela definição da Filosofia, pois Deus é por “definição”, infinito. Pergunta-se: Que ‘definição?’ Ou ainda: poderá a Filosofia ou outra ciência qualquer chegar numa  definição a respeito de Deus, se Deus é indefinido e ilimitado por sua própria natureza?

Notemos, que consiste aqui o grande problema para a Teodicéia, que busca dar provas da existência de Deus, usando a razão, sem recorrer à Fé.

O equivoco da mesma e conseqüentemente seu erro, é buscar definir o indefinível, ora, se Deus é indefinível, como pode se ter tamanha pretensão de defini-lo? E muito pior o equivoco ocorre, por buscar defini-lo através daquilo, da Filosofia, que tem por definição não definir nada, mas buscar por amor. Ora, assim dizemos porque diz-se que Deus é Amor, é Sabedoria, é Verdade; uma vez aceita está proposição e sabendo que a Filosofia é “amor a sabedoria”, esta buscará incessantemente encontra-lo, ainda que não o encontre, afinal ela jamais quis definir ou encontrar algo, mas apenas buscar.

Quem faz Filosofia? O homem, pois há quem diga que este é por definição um ser racional e pensante, embora nem todos pensem nem ao menos sabem que deveriam pensar.

Compreende-se, então que, sendo um ser pensante o homem não deixará de perguntar-se por sua origem e pela existência de Deus, mas entende-se da mesma forma, que sua busca consiste no amor a Sabedoria[2] eterna, ainda que não tenha consciência disso e não na pretensão de chegar a definí-Lo, no que é ou seja sua essência. É cabível ao homem apenas buscar, isso já consiste no seu ponto máximo, de ser pensante, ser que questiona, mas que sabe que não encontrará, pois não é possível ao finito compreender o infinito, porem o fato de contemplá-Lo já lhe dá o sentido de sua vida; buscar contemplar a Deus, portanto, é dar sentido metafísico à existência do ser humano, é a pergunta propriamente humana e que faz com que o homem seja realmente homem, indo além da sua inexistência física, buscando transcender ao transcendental, pois isso, este ainda que compreenda sua pequenez diante do Deus criador, infinito, indizível, incompreensível, inalcançável, inigualável,  incomparável, nunca deixará de se interrogar por sua existência e conseqüentemente a existência de Deus, crendo ou não Nele.

 

 

 

 

 

 

Quinta-feira, 28 de Setembro de 2006.



[1] Termo introduzido por Leibniz; o termo quer se definir por ser a parte da Filosofia que busca encontrar provas da existência de Deus, sem o uso da revelação, a Bíblia  ou outros escritos de fé. 

[2] Entende-se por sabedoria eterna aqui como Deus, que é eterno é imutável conhecedor de todas as coisas, uma vez que conhece todas as coisas só pode ser Deus.